sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Saudade

Eu me lembro dos seus olhos, do seu cabelo sobre o vento. Lembro do seu rosto e do seu coração humilde. Eu me lembro da primeira música que te mostrei. Lembro de cada momento, de cada sorriso que a gente teve juntos. O trilho estava vazio e o vento soprava forte. Segunda semana de Setembro, primeira semana do outono. A paisagem alaranjada chamava a minha atenção e dos outros que chegavam sem parar. Dia idêntico ao do ano passado, quando a gente se conheceu pela primeira vez,estava frio, gelado. Ele desceu do trem, procurou alguém que o pudesse ajudar com a localização, respirou fundo e decidiu comprar a passagem de volta para Nova York. Olhou para o redor, para o banco e nada de achar quem ele procurava. O sinal de partida da estação o faz olhar, sobre tanta gente, ele me encontra. Corre, grita meu nome, e larga suas coisas no meio da estação. Encontramos-nos, nos abraçamos e o momento parece ficar congelado. Já faz um ano. Ele morava em Londres, e infelizmente só conseguíamos nos ver uma vez por ano. Não tínhamos como deixar tudo e todos ainda onde moravam, para nos encontrar mais que uma vez. Havia falado com ele hoje de manhã. Estava tudo bem, estava chegando. A mentira era que o relógio estava atrasado demais, fazia quase cinco horas que o esperava aqui, sem notícias, sem nada dele. A televisão geral é ligada e todos olham com preocupação esperando notícias do atentado. Hoje de manhã, o World Trade Center havia caído em um ataque terrorista. Todos estavam nervosos, menos eu que era única que só pensava no Levi. Uma interrupção, e a notícia de que outro avião caiu no meio do nada. Era de Londres para Nova York, e já fazia cinco horas que tentavam resgatar as pessoas. A lista de mortos era divulgada calmamente, até que ao escutar um nome familiar minha respiração é cortada. A saudade de ano a ano, era devastadora. Mas a saudade agora eterna era mortal. Era suicida e imprudente. Meu coração apertava, eu soluçava. Todos se voltaram pra mim já entendendo o que estava acontecendo. Peguei o único dinheiro que tinha no bolso do meu jeans e dei para o taxista me levar o mais depressa possível para um lago que existia perto de casa. Abri a porta rapidamente. Tirei meu celular, meus documentos do outro bolso e joguei-me com tudo na água. Fiquei por lá, até não aguentar mais. Até sentir meu corpo dilatar, meu fôlego acabar, meu coração parar e minha alma se encontrar com ele.



Nenhum comentário:

Postar um comentário